ESQUIZOFRENIA - UM DRAMA EM FAMÍLIA


ESQUIZOFRENIA - UM DRAMA EM FAMÍLIA

Por Fernando Vieira Filho (1)

Apesar da exata origem da doença não estar concluída, as evidências indicam mais e mais fortemente que a esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral. Segundo pesquisadores, as atuais evidências relativas às causas da esquizofrenia são um mosaico: a única coisa clara é a constituição multifatorial da esquizofrenia. Isso inclui mudanças na química cerebral, fatores genéticos e mesmo alterações estruturais. A origem viral e traumas encefálicos não estão descartados. A esquizofrenia é provavelmente um grupo de doenças relacionadas, algumas causadas por um fator, outras, por outros fatores. 
A questão sobre a existência de várias esquizofrenias e não apenas uma única doença não é um assunto novo. Primeiro, pela diversidade de manifestações como os subtipos paranóide, hebefrênico e catatônico além das formas atípicas, que são conhecidas há décadas. Pouco se sabe sobre essa doença. O máximo que se consegue é obter controle dos sintomas com os antipsicóticos. Nem sua classificação, que é um dos aspectos fundamentais da pesquisa, foi devidamente concluída.
Começo da doença
A esquizofrenia é uma doença incapacitante e crônica que ceifa a juventude e impede o desenvolvimento natural. Geralmente essa doença começa durante a adolescência ou no adulto jovem. Os sintomas aparecem gradualmente ao longo de meses e a família e os amigos que mantêm contato frequente não notam nada. É mais comum que uma pessoa, fora da família, perceba melhor a esquizofrenia se desenvolvendo.
Por outro lado há pessoas que desenvolvem esquizofrenia rapidamente, em questão de poucas semanas ou mesmo de dias. A pessoa muda seu comportamento e entra no mundo esquizofrênico, o que geralmente alarma e assusta muito os parentes e amigos. 
Não há uma regra fixa quanto ao modo de início: tanto pode começar repentinamente e eclodir numa crise exuberante, como começar lentamente sem apresentar mudanças extraordinárias, e somente depois de anos surgir uma crise característica.
Geralmente os primeiros sintomas são a dificuldade de concentração, prejudicando o rendimento nos estudos; estados de tensão de origem desconhecida mesmo pela própria pessoa e insônia e desinteresse pelas atividades sociais com conseqüente isolamento. A partir de certo momento, mesmo antes da esquizofrenia ser deflagrada, as pessoas próximas se dão conta de que algo errado está acontecendo. Nos dias de hoje os pais poderão pensar que se trata de uso de drogas, os amigos podem achar que são dúvidas quanto à sexualidade, outros julgarão serem dúvidas existenciais próprias da idade. A psicoterapia contra a vontade do doente será indicada e muitas vezes, realizada sem nenhum melhora da pessoa. A permanência da dificuldade de concentração levará à interrupção dos estudos e perda do trabalho. Aqueles que não sabem o que está acontecendo, começam a cobrar e até hostilizar o doente. Ele, por sua vez, também não entende o que está acontecendo, e sofre pela doença iniciante e pela ignorância da família. É comum nessas fases o desleixo com a aparência ou mudanças no visual em relação ao modo de ser, como a realização de tatuagens, colocação de piercings, cortes de cabelo estranhos, indumentárias ridículas e descuido com a higiene pessoal. 
Muitas vezes não há uma fronteira clara entre a fase inicial com comportamento anormal e a esquizofrenia propriamente dita. A família pode considerar o comportamento como tendo passado dos limites, mas os mecanismos de defesa dos pais os impede muitas vezes de verem que o que está acontecendo; não é culpa ou escolha do filho, é uma doença mental.
A fase inicial pode durar meses, enquanto a família espera por uma recuperação do comportamento. Enquanto o tempo passa, os sintomas se aprofundam, a pessoa apresenta uma conversa estranha, irreal, passa a ter experiências diferentes e não usuais, o que leva as pessoas próximas a julgarem ainda mais que ele está fazendo uso de drogas ilícitas. É possível que o doente já esteja tendo sintomas psicóticos durante algum tempo antes de ser levado a um médico.
Quando um fato grave acontece não há mais meios de se negar que algo errado está acontecendo, seja por uma atitude fisicamente agressiva, seja por tentativa de suicídio, seja por manifestar seus sintomas claramente ao afirmar que é Jesus Cristo ou que está recebendo mensagens do além e falando com os mortos. Nesse ponto a psicose está clara, o diagnóstico de psicose é inevitável. Nessa fase os pais deixam de sentir raiva do filho e passam a se culpar, achando que se tivessem agido antes nada disso estaria acontecendo, o que não é verdade. Infelizmente não existe tratamento precoce que previna a esquizofrenia, que é uma doença inexorável. As medicações controlam parcialmente os sintomas: não normalizam o doente. Quando isso acontece é por remissão espontânea da doença e por nenhum outro motivo conhecido pela ciência atual.
Diagnóstico
Não há um exame que diagnostique precisamente a esquizofrenia, isto depende exclusivamente dos conhecimentos e da experiência do médico psiquiatra, portanto é comum ver conflitos de diagnóstico. O diagnóstico é feito pelo conjunto de sintomas que o doente apresenta e a história como esses sintomas foram surgindo e se desenvolvendo. Existem critérios estabelecidos para que o médico e terapeuta tenham um ponto de partida, uma base onde se sustentar, mas a maneira como o profissional encara os sintomas é bem pessoal. Um psiquiatra pode considerar que uma insônia apresentada não tenha maior importância na composição do quadro; já outro pode considerá-la fundamental. Assim os quadros não muito definidos ou atípicos podem gerar conflitos de diagnóstico.
Curso da doença
A esquizofrenia é doença grave, pois afeta as emoções, o pensamento, as percepções e o comportamento. A gravidade dela não está tanto no diagnóstico: está mais no curso da doença.
Classicamente a distinção que Kraepelin fez entre esquizofrenia (antigamente chamada de demência precoce) e o transtorno bipolar (psicose cíclica ou como era chamada, maníaco-depressiva) foi a possibilidade de recuperação dos bipolares, enquanto os esquizofrênicos se deterioravam e não se recuperavam. Talvez a partir daí criou-se uma tendência a considerar-se a esquizofrenia irrecuperável. Não resta a menor dúvida de que muitos casos não se recuperam, mas há exceções (tratamentos alternativos e espirituais) e quando elas surgem, toda a regra passa a ser duvidosa, pois se perdem os limites sobre os quais se operava com segurança. 
Há dois motivos básicos que justificam a falta de segurança sobre o curso da esquizofrenia:
1- Falta de critérios uniformes nas pesquisas passadas sobre o assunto.
2- Dificuldade de se acompanhar ao longo de vários anos um grupo grande de doentes.

Faz apenas um pouco mais de 10 anos que a Organização Mundial de Saúde criou critérios objetivos e claros para a realização do diagnóstico da esquizofrenia. Na versão anterior, o CID 9 (Classificação Internacional de Doenças nº 9), os critérios eram "frouxos" permitindo diferenças consideráveis nos parâmetros adotados entre os estudos; assim as disparidades de resultados entre eles eram inaceitáveis terminando com a indefinição a respeito do curso da esquizofrenia. 
Algumas psicoses são naturalmente transitórias e únicas na vida de uma pessoa. Se por engano essas são consideradas como esquizofrênicas gera-se conflito ao se comparar com estudos cujos critérios exigiam um período mínimo de meses na duração da psicose. Mesmo que durem muitos anos as psicoses não podem ser confundidas com a personalidade esquizóide. Assim, devido à falta de rigor na realização dos diagnósticos não podemos ter segurança nos estudos anteriores ao CID 10 ou ao DSM-III (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders number 3) para os estudos que se basearam nos critérios americanos; assim, as conclusões desses estudos não podem determinar nossa conduta atual. Apesar do CID 10 ter criado uma técnica comprovadamente mais confiável e precisa de se diagnosticar a esquizofrenia, o problema não está resolvido. Somente com o tempo e com mais pesquisas saberemos se os critérios hoje adotados estão corretos, se correspondem à realidade. Caso no futuro se constate que ainda são insuficientes, as pesquisas feitas com os critérios do CID 10 também serão desacreditadas. As pesquisas precisam dizer se o que estamos diagnosticando é uma doença com vários cursos naturais ou se são na verdade várias doenças cada qual com seu curso próprio. Perante essas dificuldades entendemos por que são tão almejadas técnicas biológicas, como as de imagem da tomografia por emissão de pósitrons, para se estudar as esquizofrenias.
Segundo alguns estudos, mesmo em casos de remissão completa, não há garantia de cura. Esse dado aparentemente banal é importantíssimo no relacionamento com o doente e sua família por que 100% deles perguntam se ficarão bem, se voltarão a ser o que eram. No atual momento nenhum profissional da saúde mental pode afirmar o que acontecerá. Dizer que não vai melhorar é provocar uma desesperança, dizer que vai ficar bom pode ser ilusório, o que posteriormente custará a confiança no profissional.
Causa
Sobre a causa da esquizofrenia só sabemos duas coisas: é complexa e multifatorial. O cérebro, por si, possui um funcionamento extremamente complexo e em grande parte desconhecido. Essa complexidade aumenta se considerarmos, e temos de considerar, que o funcionamento do cérebro depende do funcionamento de outras partes do corpo como os vasos sangüíneos, o metabolismo do fígado, a filtragem do rim, a absorção do intestino etc. Por fim, ao considerar outras variáveis nada desprezíveis como o ambiente social e familiar, a complexidade se torna inatingível para os recursos da Ciência. Provavelmente a esquizofrenia é resultado disso tudo. Na história da Medicina as doenças foram descobertas muitas vezes pelos grupos ou atividades de risco. As pessoas que passavam em determinado local e contraíam doenças comuns àquela região abriam precedentes nas pesquisas. Locais onde o solo era pobre em iodo, as pessoas adquiriam bócio; locais onde havia certos mosquitos as pessoas podiam adquirir malária, dengue, febre amarela. Locais infestados por ratos, adquiriam leptospirose. Com a esquizofrenia, nunca se conseguiu identificar fatores de risco, exceto o parentesco com algum esquizofrênico. Este fato dificulta as investigações porque não fornece as pistas nas quais os pesquisadores médicos precisam se basear para pesquisar. Como não há pistas, os profissionais são obrigados a escolher um tema, que por intuição, pode se relacionar à esquizofrenia e investigá-lo. É isto que tem sido feito.
Teoria Bioquímica
A mais aceita em parte devido ao sucesso das medicações: as pessoas com esquizofrenia sofrem de um desequilíbrio neuroquímico, portanto falhas na comunicação celular do grupo de neurônios envolvidos no comportamento, pensamento e senso-percepção.
Teoria do Fluxo Sanguíneo Cerebral
Com as modernas técnicas de investigação das imagens cerebrais (Tomografia por Emissão de Pósitrons- TEP) os pesquisadores estão descobrindo áreas que são ativadas durante o processamento de imagens sejam elas normais ou patológicas. As pessoas com esquizofrenia parecem ter dificuldade na "coordenação" das atividades entre diferentes áreas cerebrais. Por exemplo, ao se pensar ou falar, a maioria das pessoas mostra aumento da atividade nos lobos frontais, juntamente a diminuição da atividade de áreas não relacionadas a este foco, como a da audição. Nos esquizofrênicos observa-se anomalias dessas ativações. Por exemplo, ativação da área auditiva quando não há sons (possivelmente devido a alucinações auditivas), ausência de inibição da atividade de áreas fora do foco principal, incapacidade de ativar como a maioria das pessoas, certas áreas cerebrais.
A TEP (Tomografia por Emissão de Pósitrons) mede a intensidade da atividade pelo fluxo sangüíneo: uma região cerebral se ativa, recebendo mais aporte sangüíneo, o que pode ser captado pelo fluxo sangüíneo local. Ela mostrou um funcionamento anormal, mas por enquanto não temos a relação de causa e efeito entre o que as imagens revelam e a doença: ou seja, não sabemos se as anomalias, o déficit do fluxo sangüíneo em certas áreas, são a causa da doença ou a conseqüência da doença.

Teoria Biológica Molecular
Especula-se a respeito de anomalias no padrão de certas células cerebrais na sua formação antes do nascimento. Esse padrão irregular pode direcionar para uma possível causa pré-natal da esquizofrenia ou indicar fatores predisponentes ao desenvolvimento da doença.
Teoria Genética
Talvez essa seja a mais aceita de todas as teorias. Nas décadas passadas vários estudos feitos com familiares mostrou uma correlação linear e direta entre o grau de parentesco e as chances de surgimento da esquizofrenia. Pessoas sem nenhum parente esquizofrênico têm 1% de chances de virem a desenvolver esquizofrenia; com algum parente distante essa chance aumenta para 3 a 5%. Com um pai ou mãe aumenta para 10 a 15%, com um irmão esquizofrênico as chances aumentam para aproximadamente 20%, quando o irmão possui o mesmo código genético (gêmeo idêntico) as chances de o outro irmão vir a ter esquizofrenia são de 50 a 60%.A teoria genética, portanto explica em boa parte de onde vem a doença. Se explicasse tudo, a incidência de esquizofrenia entre os gêmeos idênticos seria de 100%.
Teoria do Estresse
O estresse não causa esquizofrenia, no entanto o estresse pode agravar os sintomas. Situações extremas como guerras, epidemias, calamidades públicas não fazem com que as pessoas que passaram por tais situações tenham mais esquizofrenia do que aquelas que não passaram.
Teoria das Drogas
Não há provas de que drogas lícitas ou ilícitas causem esquizofrenia. Elas podem, contudo, agravar os sintomas de quem já tem a doença. Certas drogas como cocaína ou estimulantes podem provocar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia, mas não há evidências que cheguem a causá-la.
Teoria Nutricional
A alimentação balanceada é recomendável a todos, mas não há provas de que a falta de certas vitaminas desencadeie esquizofrenia nas pessoas predispostas. As técnicas de tratamento por megadoses de vitaminas não têm fundamento estabelecido por enquanto.
Teoria Viral
A teoria de que a infecção por um vírus conhecido ou desconhecido desencadeie a esquizofrenia em pessoas predispostas foi muito estudada. Hoje essa teoria vem sendo abandonada por falta de evidências embora muitos autores continuem considerando-a como possível fator causal.
Teoria Social
Fatores sociais como desencadeantes da esquizofrenia sempre são levantados, mas pela impossibilidade de estudá-los pelos métodos hoje disponíveis, nada se pode afirmar a seu respeito. Toda pesquisa científica precisa isolar a variável em estudo. No caso do ambiente social não há como fazer isso sem ferir profundamente a ética.

Minha opinião a respeito da esquizofrenia
Com todo o meu respeito à Ciência, aos pesquisadores e autores, como seguidor da Doutrina Espírita, não posso esquecer que a esquizofrenia, como toda doença séria e incapacitante, é uma consequência de desvarios e crimes cometidos pelo ser humano, em suas pregressas existências. E, como dizia meu sogro, Dr. Elias Barbosa, professor e médico psiquiatra espírita, com mais de quarenta anos de experiência clínica: “Os esquizofrênicos são espíritos de inteligência brilhante, que prejudicaram muitas pessoas em existências passadas e, que, na presente existência, sofrem uma ferrenha e metódica perseguição de obsessores desencarnados - suas antigas vítimas que ainda não o perdoaram.” Por isso, quando atendo pais espíritas, cujos filhos são esquizofrênicos, digo a eles que a doença por si só já é a própria cura do doente. Que sigam à risca o tratamento médico convencional, mas que levem o doente, tanto quanto possível, ao Centro Espírita, para ele tomar passes e água fluidificada. Os pais do doente devem frequentar sessões de desobsessão semanais, com muita disciplina. E em casa, fazer o Culto do Evangelho no Lar, todos os dias e, durante as preces, sempre pedir perdão aos perseguidores do filho esquizofrênico.


Sintomas da esquizofrenia
Alucinações - as mais comuns nos esquizofrênicos são as auditivas. O doente geralmente ouve vozes depreciativas que o humilham, falam palavrões, ordenam atos que os doentes reprovam, ameaçam, conversam entre si falando mal do próprio esquizofrênico. Pode ser sempre a mesma voz, podem ser de várias pessoas, podem ser vozes de pessoas conhecidas ou desconhecidas, podem ser murmúrios e vozes incompreensíveis, ou claras e compreensíveis. Da mesma maneira que qualquer pessoa se aborrece em ouvir tais coisas, os doentes também se afligem com o conteúdo do que ouvem, ainda mais por não conseguirem fugir das vozes. Alucinações visuais são raras na esquizofrenia, sempre que surgem devem pôr em dúvida o diagnóstico, favorecendo perturbações orgânicas do cérebro.
Delírios - Os delírios de longe mais comuns na esquizofrenia são os de perseguição. São as ideias falsas que os doentes têm de que estão sendo perseguidos, que querem matá-lo ou fazer-lhe algum mal. Os delírios podem também ser bizarros como achar que está sendo controlado por extraterrestres que enviam ondas de rádio para o seu cérebro. O delírio de identidade (achar que é outra pessoa) é a marca típica do doente mental que se considera Napoleão. No Brasil o mais comum é considerar-se Deus ou Jesus Cristo e outros Santos da Igreja Católica.
Perturbações do Pensamento - Estes sintomas são difíceis para o leigo identificar: mesmos os médicos não psiquiatras não conseguem percebê-los, não porque sejam discretos, mas porque a confusão é tamanha que nem se consegue denominar o que se vê. Há vários tipos de perturbações do pensamento, o diagnóstico tem que ser preciso porque a conduta é distinta entre o esquizofrênico que apresenta esse sintoma e um doente com confusão mental, que pode ser uma emergência neurológica.
Alteração da sensação do eu - Assim como os delírios, esses sintomas são diferentes de qualquer coisa que possamos experimentar, exceto em estados mentais patológicos. Os doentes com essas alterações dizem que não são elas mesmas, que outra entidade apoderou-se de seu corpo e que já não é ela mesma, ou simplesmente que não existe, que seu corpo não existe.
Falta de motivação e apatia - Esse estado é muito comum, praticamente uma unanimidade nos doentes depois que as crises cessaram. O doente não tem vontade de fazer nada, fica deitado ou vendo TV o tempo todo, frequentemente a única coisa que faz é fumar, comer e dormir. Descuida-se da higiene e aparência pessoal. Os doentes apáticos não se interessam por nada, nem pelo que costumavam gostar.
Embotamento afetivo - As emoções não são sentidas como antes. Normalmente uma pessoa se alegra ou se entristece com coisas boas ou ruins respectivamente. Esses doentes são incapazes de sentir como antes. Podem até perceber isso racionalmente e relatar aos outros, mas de forma alguma podem mudar essa situação. A indiferença dos doentes pode gerar raiva pela apatia consequente, mas os doentes não têm culpa disso e muitas vezes são incompreendidos.
Isolamento social - O isolamento é praticamente uma consequência dos sintomas acima. Uma pessoa que não consegue sentir nem se interessar por nada, cujos pensamentos estão prejudicados e não consegue diferenciar bem o mundo real do irreal não consegue viver normalmente na sociedade.
Estes três últimos sintomas não devem ser confundidos com depressão. A depressão é tratável e costuma responder às medicações, já esses sintomas citados da esquizofrenia não melhoram com nenhum tipo de antipsicótico. A grande esperança dos novos antipsicóticos de atuarem sobre os sintomas depressivos não se concretizou, contudo esses sintomas podem melhorar espontaneamente. Por isso que, hoje em dia, os médicos estão associando medicamentos antidepressivos com antipsicóticos, no tratamento da esquizofrenia. 

Quando um filho tem esquizofrenia
Quando um filho tem esquizofrenia, ele sofre e sofre também a família. Num primeiro momento, tenta-se esconder a doença por causa do preconceito social. Quando a doença não passa os sonhos se desfazem e a preservação da imagem não tem mais sentido porque a doença é mais grave do que o preconceito. A desesperança surge junto com a tristeza e o sentimento de perda da vida, da perspectiva, do futuro daquele que adoeceu tem que ser superado. A doença não pede licença: impõe e obriga-nos a mudar de postura diante da vida, diante da dor. A esquizofrenia não pode ser encarada como uma desgraça: tem que ser vista como uma barreira natural para nossos planos e desejos pessoais. Quando alguém na família adquire esquizofrenia é necessário que toda a família mude, se adapte para continuar sendo feliz apesar da dor. Os artigos científicos não publicam, mas o ser humano é capaz de ser feliz apesar da doença.

Como reconhecer a esquizofrenia ainda no começo?
O reconhecimento precoce da esquizofrenia é uma tarefa difícil porque nenhuma das alterações é exclusiva da esquizofrenia incipiente; essas alterações são comuns a outras enfermidades, e também a comportamentos socialmente desviantes, mas psicologicamente normais. Diagnosticar precocemente uma insuficiência cardíaca pode salvar uma vida, já no caso da esquizofrenia a única vantagem do diagnóstico precoce é poder começar logo um tratamento, o que por si não implica em recuperação. O diagnóstico precoce é melhor do que o diagnóstico tardio, pois tardiamente já terá sido imposto muito sofrimento ao doente e à sua família, coisa que talvez o tratamento precoce evite. O diagnóstico é tarefa exclusiva do psiquiatra, mas se os pais não desconfiam de que uma consulta com este especialista é necessária nada poderá ser feito até que a situação piore e a busca do profissional seja irremediável. Qualquer pessoa está sujeita a vir a ter esquizofrenia; a maioria dos casos não apresenta nenhuma história de parentes com a doença na família. 

Abaixo estão enumeradas algumas dicas - como dito acima, nenhuma delas são características, mas servem de parâmetro para observação:
Dificuldade para dormir, alternância do dia pela noite, ficar andando pela casa a noite, ou mais raramente dormir demais
• Isolamento social, indiferença em relação aos sentimentos dos outros
• Perda das relações sociais que mantinha 
• Períodos de hiperatividade e períodos de inatividade 
• Dificuldade de concentração, chegando a impedir o prosseguimento nos estudos 
• Dificuldade de tomar decisões e de resolver problemas comuns 
• Preocupações não habituais com ocultismos, esoterismo e religião
• Hostilidade, desconfiança e medos injustificáveis
• Reações exageradas às reprovações dos parentes e amigos 
• Deterioração da higiene pessoal 
• Viagens ou desejo de viajar para lugares sem nenhuma ligação com a situação pessoal e sem propósitos específicos 
• Envolvimento com escrita excessiva ou desenhos infantis sem um objetivo definido 
• Reações emocionais não habituais ou características do indivíduo 
• Falta de expressões faciais (Rosto inexpressivo) 
• Diminuição marcante do piscar de olhos ou piscar incessantemente 
• Sensibilidade excessiva a barulhos e luzes 
• Alteração da sensação do tato e do paladar 
• Uso estranho das palavras e da construção das frases 
• Afirmações irracionais 
• Comportamento estranho como recusa em tocar as pessoas, penteados esquisitos, ameaças de automutilação e ferimentos provocados em si mesmo 
• Mudanças na personalidade 
• Abandono das atividades usuais 
• Incapacidade de expressar prazer, de chorar ou chorar demais injustificadamente, risos imotivados
• Abuso de álcool ou drogas 
• Posturas estranhas 
• Recusa em tocar outras pessoas 

Nenhum desses sinais por si comprovam doença mental, mas podem indicá-la. Pela faixa etária, esses sinais podem sugerir envolvimento com drogas, personalidade patológica ou revolta típica da idade. Diferenciar a esquizofrenia do envolvimento com drogas pode ser feito pela observação da preocupação constante com dinheiro, no caso de envolvimento com drogas, coisa rara na esquizofrenia. As personalidades patológicas (por exemplo, a psicopatia, “borderline” etc) não apresentam mudanças no comportamento, são sempre desviantes, desde as tenras idades. Na esquizofrenia incipiente, ainda que lentamente, ocorre uma mudança no curso do comportamento da pessoa, e nas personalidades patológicas não. Na revolta típica da adolescência sempre haverá um motivo razoável que justifique o comportamento, principalmente se os pais tiverem muitos conflitos entre si.
Aos pais
• Aprendam a reconhecer os sintomas iniciais, que possam indicar uma possível recaída antes do quadro completo se instalar. 
• Procurar atendimento médico logo, sem adiamentos. 
• Procurar aprender sobre a doença para melhor entender o filho em suas necessidades. 
• Estabelecer expectativas realistas para a condição individual do filho doente. 
• Observar e aprender para melhor poder relatar os sintomas. 
• Saber respeitar seus próprios limites: você não poderá ajudar adequadamente enquanto estiver precisando de ajuda. 
• Tentar o máximo possível estabelecer uma relação amistosa, com um objetivo e finalidade estabelecida.
• Estimular parentes e amigos de seu filho a estabelecerem uma relação saudável. 
• Comunicar-se de forma clara e objetiva, sem usar meias-palavras ou deixar mensagens subentendidas. 
• Principalmente: ter um ambiente emocionalmente estável em casa. Expressões hostis mesmo que não direcionadas para a pessoa doente afetam e prejudicam o esquizofrênico. Não exercer cobranças sobre ele. Expressar as emoções tanto positivas (alegria) quanto as negativas (raiva) sempre com moderação.
• Estimular a religiosidade no doente seja ela de qualquer denominação. E todo fim de noite, procurar orar junto ao filho.

Uso dos medicamentos
Os remédios são a única alternativa para tratar a esquizofrenia, as outras formas de terapia complementam, mas não substituem as medicações. Há, contudo, uma natural resistência ao uso delas e isso é apenas uma conseqüência da forma como se entende a doença. Se encararmos a medicação como algo estranho ao corpo a aversão se dará inevitavelmente, mas se encararmos as medicações como substâncias reguladoras de atividades cerebrais desequilibradas, pode-se vê-las como amigas. O doente não tem nenhuma culpa por uma parte do cérebro estar desregulado, mas pode usar o lado saudável (o bom senso) para tomar a decisão de se tratar. As medicações, portanto, só fazem ajustar o que estava desajustado. Infelizmente no caso da esquizofrenia não se conhece medicações que realizem essa tarefa completamente, restabelecendo a normalidade do doente. Mas por enquanto temos uma ajuda parcial.

Fontes:
DSM. IV, CID.10
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais foi publicado em 1952 pela Associação Americana de Psiquiatria.
New Hope in Pharmacotherapy for Schizophrenia - Leonardo Cortese.
Dalgalarrondo, Paulo - Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais, 2ª Ed. Artemed.
Os Demônios De Henry - Vivendo Com A Esquizofrenia: Pai E Filho Contam Sua História - Cockburn, Henry; Cockburn, Patrick / JORGE ZAHAR
Ajustamento Social na Esquizofrenia - Shirakawa, Itiro / Casa Leitura Médica - 4ª Ed. 2009
Esquizofrenia - Adesão ao Tratamento -Shirakawa, Itiro / Casa Leitura Médica
Entendendo a Esquizofrenia - Geraldes, Maria Thereza de Moraes; Bezerra, Ana Beatriz Costa; Palmeira, Leonardo Figueiredo / INTERCIENCIA

(1) Fernando Vieira Filho - Psicoterapeuta/clínico, palestrante e escritor. Autor do livro CURE SUAS MÁGOAS E SEJA FELIZ! – 2ª Ed. - Barany Editora - 2012. E coautor do livro DIETA DOS SÍMBOLOS – 6ª Ed. - Melhoramentos - 2004. 
É autor dos E-Books: 

PSICOFÁRMACOS - Uso e aplicações de forma simples e eficaz. 
PSICOPATOLOGIA - Apresentada de forma simples e objetiva - Incluindo psicopatologias infantis. 

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